terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Amantes

 

“Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair”
Chico Buarque

Deitado,  mãos  com  dedos  entrelaçados  sob  a  cabeça.  Os  olhos  mirando  a luminária, o teto. Sei lá. Acha que, em verdade, não mira nada, absorto, aposta, em reviver  o  que  entre os  dois, mais  uma  vez,  aconteceu. Conferiu,  no  banheiro,  o sabonete  e  o creme  dental — já  se  habituara  a  com  ela  encontrar-se  sem  usar perfume algum, o que, não sabia ele, mais a excitava. Tudo em ordem. Quis deixar na  boca  o  cheiro  da porra  de E.,  para  que  J.,  ao  beijá-la, sentisse-o  no  palato. E assim fê-la. Vestiu-se ainda no banheiro. Repôs os anéis e o colar já no quarto. Ele quis  levantar-se. Disse-lhe para  continuar  na  cama;  que preferia  sair  e  ter  como imagem ele deitado, nu.
Assim ficou. Ouviu o destrancar da porta, e, em seguida, sendo fechada. Levantou-se. Dirigiu-se ao  banheiro.  As  mãos  sobre  a  parede  e  a água  a  despejar-se sobejamente  sobre  o  seu corpo. As  lembranças  levaram-no  à  ereção. Definitivamente, não se sentia, apesar do prazer que G. lhe proporcionava, feliz. O fato de G., após encontrarem-se, retornar ao marido o incomodava. Quantas vezes lhe pedira para abandoná-lo?  Oh, pobre coitado.

Um comentário:

Andréa disse...

Belo conto, M. de Moura Filho, em que você, acho, retrata uma realidade.
Assim, parece, são as relações hoje.